depois de

Me perguntei como alguém poderia se lembrar de amor em um banheiro que cheira tão ácido mijo. Eu tive a sorte de esquece-lo, ainda que num desfile de paisagens bonitas. Já estava há muito tempo na estrada quando, no banheiro do posto da estrada de Minas Gerais, tive minha imagem revista num espelho rachado escrito Val Te AMO em batom. A imagem se achegava, usava a declaração de amor vermelha de cortina pra sua apresentação, se procurava por mim, pedia atenção e eu a dei maior que ao mijo. 45 dias sem me ver, um susto. A imagem me olhava de cima, descarada e com olhos de lama de rio. Sem o reparo ao qual o espelho nos induz todo dia, eu aparentava comigo mesma, enfim, e quase não me reconhecia. Cada traço da minha cara se mutava no outro como meus pensamentos se encadeiam com os sentidos. Não que eu os entenda, te digo com limpeza. Me senti até ralé cara a cara com uma imagem assim, tão imponente, cheia de si, de tragar pescadores que se gabam de que pescar no rio é mais difícil porque água doce deixa o corpo pesado e a lama engole pés. Fato que aquela era eu vencendo o Val Te AMO sem dificuldades. Aquela era eu, sim. Mas eu depois de. 

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