e trova

amorosas mangas dou -te
 batem por ti, não as alcança
seus formosos dedos enamoram-se
do finíssimo bastonete branco
Ó charme feminilesco,
ai que moiro por ti!

Respiraria meus sentimentos
Só que não
ares brancos Lhe escapolem pela boca
ares pagãos
Cá já moiro por vós, e - ai!

A rapariga fuma a erva
Flerta paixões da nova era
portais do céu, poliamor
não vê que cá moiro por lhela
Ao contrário, caçoa
 - No mundo non te sei parelha. Careta. Careta.

abriro a goela

Ma é ma é. Agora fritou vídeo. Fritou, falou? Fritou. E foi bem pra inglês ver, vários ângulo e tudo, tá no mundo, já era. No meio da paulista é outra treta. Coisa grande, na cara, diferente de quando rola dessa lá na minha quebrada. Faz tempo que falo, mano, a coisa é bruta, o baguio é loco, só sobrevive escolhido, polícia não sai do pé. Ra tá tá tá pum! Aí vem neguinho chocado. Mano, se liga, não é de hoje que eu aviso, faz tempo que eu falo no meu repente e cê não ouve. Cê capricha na chapinha, blinda seu carro e finge que não vê. Mas faz tempo que é assim que “É”. Tô ligado porque vivo com a metralha na cara, é foda, é tenso. Cê também devia tá. Mas é que nem cinema, povo gosta é de superprodução. Esculhambar com pretinho esfomeado dentro de barraco é fácil. Outra coisa é cinco mil na paulista. Arte pra colar no Masp. Ra tá tá tá pum! Uma coisa é no morro, dentro da delegacia zuando mina estuprada, borrachada em pinheirinho, bomba na cara de professor, em universitário de dread, em calça bege. Outra coisa é aquele porco safado do Datena levando contra ele ao vivo. Aí, gambé, a galera fitou, eu acho é que tava demorando preles acordá. Já era, já era. Abriro a goela. Agora cê viu, mermão? Cê viu? Vai, colarinho, chupa essa manga aí, grita do palanque. Toma cuidado que quando acorda tem gente que dá bom dia e tem gente que quebra a pia. Qual é a próxima mãe que vai chorar?

junho 2013 paulista

uma câmera na mão & internet
por favor
sirva-se!
temos suco denso vermelho
pimenta lacrimogênea
a carne, bem roxa
ao gosto do rei
repressión está na mesa
a preço de custo, bilhões
– superfatura afanada de nós, bien sur -
o troco - 20 cents – dada em bala
pelo direito de ficar à vontade
tire a roupa, pinte paredes
erga um papel bem grande
e cante algo bem alto
aqui pode.
mas cuidado
propagandas por aí
indicam casas de servir
pratos ao gosto freguês
tudo leve leve levinho
mas fique claro:
no restaurante do lado
quem arrota na mesa
fica muito mal falado

a tira colo

em noites de rock and roll, baby
seu meio conhaque ao lado
diz Somebody Loves You
em seu vestido e batom vermelho
que te iguala a Susie Q

então pra apressar
ela se droga
flerta com barbas
a cabeça rebola
mas
estranhamente
- e é tão doloroso –
barbas enrubescem e ignoram
ela que pergunta
Né, conhaque, nós dois tão quentes
Por que não nos querem esses piercings e tatuagens
Tão recatados?
logo ela, tão nos moldes
de ser toda diferentona
em seu neo feminismo anarquista
só queria ser como todos dali
Libertários,
ma non tropo
acompanhada de alguém descolado
a tira colo

depois de

Me perguntei como alguém poderia se lembrar de amor em um banheiro que cheira tão ácido mijo. Eu tive a sorte de esquece-lo, ainda que num desfile de paisagens bonitas. Já estava há muito tempo na estrada quando, no banheiro do posto da estrada de Minas Gerais, tive minha imagem revista num espelho rachado escrito Val Te AMO em batom. A imagem se achegava, usava a declaração de amor vermelha de cortina pra sua apresentação, se procurava por mim, pedia atenção e eu a dei maior que ao mijo. 45 dias sem me ver, um susto. A imagem me olhava de cima, descarada e com olhos de lama de rio. Sem o reparo ao qual o espelho nos induz todo dia, eu aparentava comigo mesma, enfim, e quase não me reconhecia. Cada traço da minha cara se mutava no outro como meus pensamentos se encadeiam com os sentidos. Não que eu os entenda, te digo com limpeza. Me senti até ralé cara a cara com uma imagem assim, tão imponente, cheia de si, de tragar pescadores que se gabam de que pescar no rio é mais difícil porque água doce deixa o corpo pesado e a lama engole pés. Fato que aquela era eu vencendo o Val Te AMO sem dificuldades. Aquela era eu, sim. Mas eu depois de. 

_


bigorna ciência de destino na era quando
tempo não passa em rotação de vênus
mundo passa no F5 da página
, haja truque
olho salino de ler a si no espelho
e no perfil do facebook
que perigo
amorfas manhãs de café preto e solidão tenho vivido
porque um perfil esculpido com trato
é tão mais gostosinho
que a pessoa que paga o pato
mas tenho um consolo
pras noites frias
 - No que você está pensando? -
teclo na janelinha branca
pra que pensem de mim
ces’t la question
quem sabe desses avatares todos
me sobre alguma paixão?